Quase reduzida a farrapo, já consumida em mais de metade e nem as estrelas já figuram todas. É assim a bandeira da UE, que paira na fronteira de Vilar Formoso. Para quem sai, é talvez o significado esfarrapado da uma aventura europeia em busca de melhores vidas para além da raia. Para quem entra em Portugal, é a imagem primeira que a Europa dá no país dos navegadores. Mesmo na linha de fronteira, onde à distância de um palmo ou de um passo tudo é diferente, a bandeira esfarrapada significa diariamente a caminhada de incontáveis automóveis aos postos de abastecimento onde gasolina, gasóleo, gás, são mais baratos e não só, os salários mais elevados. Passar aquela raia, onde a esfarrapada bandeira vigia ambos lados da fronteira, significa todos os fins-de-semana uma azáfama de carrinhas que, a partir de Vilar Formoso, levam portugueses que trabalham no país de "nuestros hermanos", na construção civil, nos campos, nas oficinas... enfim, a emigração temporária que quantas vezes não se torna definitiva. Dois jovens ciganos acolhem os que entram no país e pedem uma moeda para... sabe-se lá o quê, em troca de vigiarem o automóvel estacionado na entrada do país da BA 101, a locomotiva a vapor que recorda em Vilar Formoso a primeira travessia do "Sud-Express" a caminho da França. Aquela bandeira é de uma União Europeia que, em comum com Portugal, apenas tem o facto de ser União, mas que aqui, neste lugar de fronteira da Beira Alta com Castilla y Leon, tem a diferença de estar velha, comida pelo vento e pelo tempo que, talvez muitos ainda nem sequer notaram... Ali mesmo, por cima do Posto Misto, onde a Polícia espanhola, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e a GNR coabitam no controlo de um ponto de fronteira, com tantos outros pontos descobertos ao longo de séculos que nem bandeiras esfarrapadas conseguiram vedar em nome da boa vizinhança de povos – esses sim – de história comum e vidas quantas vezes por contar. In Diário As Beiras. |