Os professores que ao longo dos últimos dois anos “não investiram seriamente” no novo programa de Matemática para o ensino básico, que foi generalizado a todo o país em 2010/2011, “terão tido uma desagradável surpresa”, esta sexta-feira.
É grande a quantidade questões da prova de aferição do 4.º ano, realizada por mais de 110 mil alunos, que apela a conteúdos e competências que antes não eram valorizadas, afirma Helena Amaral, da Associação de Professores de Matemática.
“A prova está bem estruturada, não é demasiado longa, tem questões muitíssimo interessantes e não é difícil – mas apercebi-me, pela reacção de colegas que se mostraram pessimistas em relação aos resultados, que nem todos os professores adoptaram plenamente o novo programa”, disse Helena Amaral.
O programa aposta nas capacidades de resolução de problemas, de raciocínio e de comunicação matemáticas e assenta em quatro grandes temas: o trabalho com os números e operações, o pensamento algébrico, o pensamento geométrico e o trabalho com dados. As crianças que não têm alguns conceitos bem consolidados e não desenvolveram aquelas capacidades poderão não ter conseguido responder a várias questões, concretizou.
Aquela professora considerou, contudo, que, na medida em que a prova ainda não pesa na classificação final dos alunos, “o resultado já é positivo, por se traduzir num incentivo à adopção plena do novo programa por parte dos professores”.
A Sociedade Portuguesa de Matemática elogia “a consolidação da adequação desta prova ao conjunto de conhecimentos matemáticos que se devem desenvolver no primeiro ciclo do Ensino Básico” e acrescenta esperar que aquela que se mantenha “nos próximos anos na Prova Final de Matemática. Ainda assim, é mais crítica.
Num parecer escrito, os dirigentes salientam, por exemplo, “a presença de vários itens bastante interessantes e de itens que obrigam o aluno à elaboração de raciocínios de vários passos”. Mas apreciam de forma negativa o facto de, alegadamente, “o desejado desempenho dos alunos em procedimentos de cálculo aritmético continuar a não ser devidamente avaliado”. “As multiplicações pedidas são demasiado simples e o algoritmo da divisão está pura e simplesmente ausente desta prova”, consideram, mostrando-se preocupados com a possibilidade de isso ser interpretado “pela comunidade educativa como uma desvalorização tácita da sua importância”.
Criticam ainda o facto de na prova haver “três questões (itens 6, 15.2 e 18) que admitem um número infinito de respostas correctas” – o que, dizem não é desejável neste nível de ensino. Também notam que num dos itens (15.3) “ se pede para adivinhar um raciocínio feito por outra pessoa” e concluem que “qualquer uma” das questões citadas “seria favoravelmente substituída por outra mais directa e dirigida aos procedimentos de cálculo aritmético”.
Esta é a última prova de aferição feita por crianças do 4º ano. Na quarta-feira foi feita a de Português e, no próximo ano, a prova final já pesa 25% na classificação dos alunos.
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