Celorico da Beira. Mais de 2000 pessoas responderam ao apelo da autarquia para ajudar a pagar tratamento
Um tiro na cara cegou o ourives António Nunes, assaltado e roubado, em Janeiro passado, quando regressava da feira de Trancoso. Mas a população de Celorico da Beira quer ajudá-lo a tentar recuperar a visão em Cuba.
No último domingo, mais de dois mil celoricenses responderam ao apelo da autarquia e contribuíram com cerca de 7800 euros de donativos num espectáculo de angariação de fundos. Dinheiro que vai servir para custear as deslocações e os tratamentos que precisa António Nunes. "Tenho muitos amigos a ajudar", agradece o comerciante, de 44 anos, que vive agora na "completa escuridão", mas não perde a esperança de poder voltar a ver alguma coisa. Tudo por causa dos "milagres" que se têm feito em Cuba, onde também quer ir tentar a sua sorte. "O meu sonho é encontrar umas mãos milagrosas que me dêem um bocadinho de vista, nem que seja para ver um pouco de luz", adianta. Para isso, conta com o apoio da autarquia e do interesse da embaixada cubana, que já se disponibilizou a ajudar.
É uma das poucas hipóteses a que se tem agarrado nos últimos meses, depois de perdida a esperança em Portugal. António Nunes também já consultou especialistas em Barcelona e na Suíça, de onde regressou com algum ânimo: "Segundo me disseram terei uma hipótese em mil da operação ser bem sucedida e não a vou desperdiçar", garante.
Outra solução está no olho biónico, "o último avanço tecnológico nesta área", acrescenta, ressalvando que "só os Estados Unidos, a Alemanha e a Suíça fazem isso, embora tenha havido uma experiência em Portugal". Mas o ourives afirma que esse será o seu derradeiro recurso, que consistirá na colocação de micro-eléctrodos na superfície do olho, podendo cada um deles receber impulsos enviados por uma câmara externa.
No entanto, este estímulo eléctrico directo não permitirá a recuperação total da vista, proporcionando apenas "uma visão suficiente para a pessoa se situar e se movimentar", acrescenta António Nunes, cuja loja, no centro da vila, é um corrupio de visitantes.
É gente que quer saber novidades ou, simplesmente, dar uma palavra de ânimo ao amigo Nunes, mas cada conversa deixa a esposa lavada em lágrimas.
"É difícil aguentar esta ansiedade até ter certezas de que me posso tratar", afirma o comerciante. "Continuo com o negócio porque sou obrigado, não sei fazer outra coisa", lamenta. O que deixou de fazer foram as feiras e mercados da região, "isso nem que ficasse a ver", atira, dizendo-se muito revoltado com "os políticos" pela insegurança que vivem os ourives.
"Este país está a desarmar as pessoas de bem para armar os gatunos", acusa, constatando que, passado quase um ano, "não se vê ninguém condenado, está tudo na mesma", critica. E também estranha "a mudez dos governantes face às toneladas de ouro roubadas e levadas para fora do país". No seu caso, não recuperou a mercadoria nem tão pouco sabe em que ponto está a investigação da PJ.
António Nunes revela que vai abrir uma conta bancária onde poderão ser depositados os donativos. No fim de tudo, "se sobrar algum dinheiro será para um caso semelhante ao meu ou será doado a instituições de solidariedade do concelho", promete.
In Jornal de Notícias, 12/10/2008
Mais uma vez é a sociedade civil a ajudar quem precisa. Assim não vale a pena descontar para a Segurança Social ou outro tipo de instituição, nem pagarmos os nossos impostos, já que o Estado Português pouco nos ajuda quando precisamos dela. Os beirões de Celorico da Beira, com a sua boa vontade vão dar o seu melhor, para que o seu conterrâneo consiga ir a Cuba fazer o tratamento de que tanto necessita. As gentes da Beira são solidárias por natureza e vão conseguir alcançar os seus objectivos, através das acções que realizarem. Força Celorico!